Gustavo Abdalla
Minha família sempre foi muito envolvida com música. Minha mãe toca piano e canta desde muito nova. Ela chegou a participar de um grupo de coral na juventude. Apesar da veia musical da família não atingir apenas a mim e à minha mãe, dou enfoque a ela, pois foi quem me apresentou ao piano.
Quando era pequeno costumava brincar no piano antigo da família. As pessoas diziam a meus pais que piano não era brinquedo, mas talvez pelo histórico da minha casa, mesmo com tantos avisos, o piano era o meu maior brinquedo. Quando tinha cinco anos, meus pais resolveram me colocar para ter aulas de piano clássico. A minha professora era uma profissional muito conservadora e a maioria do que me ensinava era teoria. Ler partitura, saber os tempos, estudar as nomenclaturas. Com cinco anos eu queria tocar, tirar um som do instrumento, não estender minha lição da escola para o meu tempo de lazer. Acabei me cansando e achando que música não era minha praia; música era apenas escutar e apreciar.
Conheci Matheus nos tempos de primário na escola. Éramos da mesma sala e não demorou muito para virarmos amigos. Por volta dos oito ou nove anos, fomos apresentados de verdade aos Beatles. Já havia escutado uma música ou outra, mas não conhecia a banda realmente. Foi paixão instantânea, fiquei viciado.
Um dia desses estávamos eu e De Luca ouvindo Beatles, como de costume, e a ideia de montar uma banda surgiu. Ele já tinha entrado nas aulas de violão e sabia que eu tocava piano. Juntamos um teclado e um violão para tocar juntos. O som que rolava naquele momento era “Let It Be”. Lembro-me, pois foi dela que nasceu nossa primeira banda: The Lions.
A banda durou por volta de quatro ou cinco anos, se não me falha a memória. Comecei tocando piano e teclado, mas logo mudei para o baixo depois que nosso baixista saiu da banda. Foi nela que conhecemos o Paulo. Fizemos alguns shows com a The Lions, mas logo a banda acabou e cada um seguiu um caminho diferente. Eu estava me preparando para fazer intercâmbio nos Estados Unidos e nesse meio tempo entrei em algumas bandas, mas nenhuma delas realmente vingava.
Durante o intercâmbio estudei em colégio público americano. O incentivo cultural que eles dão nas escolas é impressionante. Nesse colégio havia incentivo e oficinas para todo tipo de arte: da culinária à música. Acabei fazendo teste para entrar na banda. Fui aceito e entrei para linha de baixo da orquestra, formada por quatro instrumentos. Tocávamos principalmente música clássica e nos apresentávamos nos eventos da escola. Aprendi muito nessa orquestra, o que realimentou ainda mais minha vontade de formar outra banda quando voltasse ao Brasil.
Mantínhamos contato por telefone. Matheus De Luca e Lucas Sales eram da mesma banda. Banda esta que acabara no início de dois mil e sete. Assim, em Abril de 2007, montamos uma nova banda, eu, Matheus e Sales. E assim nasceu a Marraio!